Pular para o conteúdo

TALARIQUISMO ESTRUTURAL

Sua melhor amiga é de fato sua amiga? E se ela é uma talarica? Não uma talaricazinha. Mas uma talarica mesmo, compulsiva! O que você faz?

Talarica? Trata-se da mulher que engata prática sexual com o homem da amiga. Em geral, no meio do mulherio, trata-se do chamado “macho da outra”. Nenhum homem diz, a fêmea do outro. Mas as mulheres, principalmente as feministas, falam “o macho da outra”, conduzindo a mulher à condição animalesca de não ter namorado ou marido, mas “macho”. Interessante como as mulheres se animalizam. Mas este não é o assunto. O assunto é talarica.

Manuela Cantuária é uma garota esperta, roteirista do Porta dos Fundos. Ela escreveu na Folha sobre a talarica. Os dicionários dizem que talarica é o feminino de talarico. Cantuária não diz nada sobre a palavra, mas vale a pena informar: falsa, invejosa, traidora, dissimulada, conflituosa. Trepa com o namorado da amiga. Trepa e faz furubundum, ou seja, trepa mesmo. Já aqui, o tema do feminismo está posto. Pois talarico, o masculino, é menos ofensivo, tem sua origem na ideia de “senhor dos ambientes”, alguém com informações privilegiadas, e que pode usá-las não só para o mal.

A talarica não, ela é, de fato, “a outra”, normalmente chamada de “aquela vagabunda”, “aquela puta”, pela mulher que está na administração oficial. Claro que, antes disso, ela era a melhor amiga. Mas, segundo Cantuária, tudo que a talarica faz é para o bem da amiga, é para mostrar que o homem não é confiável. A talarica presta um serviço para a amiga, pois segura o homem da outra com uma amante só, a amiga. Ela é, digamos assim, uma mártir do feminismo.

Agora, se a amiga fica sabendo, deve também ter claro para si mesma sobre essa missão da talarica. Fez o que fez, pegou o garoto da amiga, para mostrar para a amiga – a trouxa que certamente vai perdoar o macho – que ela está com um cara que não presta. Não vale um tostão! E agora sou eu quem digo, e não Canturária: homem que trai a namorada não vale muito mesmo. Vale nada. Se a mulher é ruim de cama, e você, homem, tem certeza que não é sua culpa, certeza mesmo, o correto é chegar a terminar o namoro antes que a coisa descambe para a traição. Pois o amor depende do sexo e vice-versa, já dizia um tal de Cupido. Relacionamentos acabam, mas a dignidade só acaba quando, em uma época como a nossa, ela já acabou. Desculpem o meu conservadorismo. Ninguém mais namora, as pessoas “ficam” ou “sentam” ou “dão uma para relaxar”. Tenho 66 anos bem vividos, quatro casamentos e dois relacionamentos longos: acreditem, a época do namoro era melhor. Não desisti dessa época. Vivo nela. Conheci o talariquismo dos bons!

No meu tempo (que frase!), o talariquismo era profissional. A talarica não atuava aqui e ali, de vez em quando, segundo conveniências. Nada disso. Ela agia obstinadamente em tempo integral. Ia perdendo amigas e fazendo outras, sempre com uma capacidade incrível de criar intimidades. Sempre de dupla, não largava a amiga. Fazia questão de apresentar um qualquer para a amiga, e depois que a amiga estava namorando o bandido, ela própria já se punha para “dar uns amassos” com o cara. Amasso por amasso, o cara acabava cumprindo seu papel de homem. Afinal, os homens sabiam que rejeitar era pior: iria ser difamado duplamente. A talarica iria contar para a amiga que o cara a cantou, e iria espalhar para o irmão que o cara não a cantou, pois seria um baita viado enrustido.

Diante da talarica, o homem tinha dois destinos: fama de homossexual, que quando eu era jovem não era boa fama. E fama de sem vergonha, traidor, galinhão etc. Fama menos ruim que a de viado, mas que impedia ser levado a sério por moça séria.

Tudo evoluiu, mudou, mas a talarica não. Ela se transformou em verdadeira instituição. Há quem diga que o talariquismo, dentro do mundo feminino, é até … estrutural. Ou há talaricas ou o mundo feminino não existe. Nesse sentido, apesar de tudo que fizemos, somos realmente como nossos avós.

Paulo Ghiraldelli, filósofo, escritor, professor e jornalista

5 comentários em “TALARIQUISMO ESTRUTURAL”

Não é possível comentar.