Em 1989 Lula era candidato à presidência pela primeira vez. Chico Anísio fazia um stand up no horário nobre dos domingos, no interior do programa Fantástico. Ele contou uma piada que me deixou constrangido, eu e milhares de brasileiros. É que Lula teria ganho a eleição e, ao chegar no Palácio do Planalto, Marisa Letícia parou e exclamou: “Meu Deus, vou ter que limpar todas essas janelas”. Como rir disso? Era algo para ser engraçado? A reação desfavorável foi tamanha que Chico Anísio teve de pedir desculpas públicas. Depois, assim do nada, ele se casou com Zélia Cardoso de Mello, como que se oferecendo como prêmio consolação, dado o desprestígio repentino da moça por conta do fracasso do plano econômico de Collor e do Impeachment. Ela aceitou o pedido de casamento vindo de alguém que mal conhecia! Foi outra piada, também sem graça – mas desta vez não contada, e sim realizada, encenada pelo próprio Chico Anísio e pela figura patética de Zélia.
Vira e mexe e estamos diante de gente que quer sobreviver em palcos por meio do constrangimento alheio. Agora é a vez de um tal de Leo Lins.
Não existem as piadas pelas quais Leo Lins está sendo posto na berlinda pela justiça. Não existem! Digo isso principalmente se alguém insistir que ele faz piadas de minorias. Esse modo de criticar humoristas ou algum escritor ou artista, dizendo que se trata de uma pessoa que faz piadas de minorias, e que isso é ultrajante e no mínimo de mal gosto, é um erro crasso. Toni Goes comete esse erro (Folha, 20/05/2023), que já se tornou comum no jornalismo. As piadas não podem ser classificadas por esse crivo que nada diz. Falar que há piadas sobre minorias e piadas de outro tipo – eis aí o centro da confusão de nossos dias sobre o assunto. O que existe são piadas boas e ruins. As boas fazem rir, as segundas não fazem rir, ou, se fazem, trata-se de rir de alguém e não para alguém.
Boas piadas nos fazem rir para alguém, como uma saudação ou convite para o bem estar. Piadas ruins não nos fazem rir, e se rimos, trata-se de uma risada estranha, nada espontânea, nervosa, talvez sarcástica. Nesse caso estamos rindo de alguém, e adentramos a seara do escárnio. A piada boa não humilha. A piada ruim humilha.
Quando pensamos as piadas sob esse critérios, e não pela divisão que leva em consideração minorias, fugimos do perigo da censura. Passamos a ter de olhar caso a caso, averiguar efetivamente quais os ânimos que são exaltados com uma narrativa que é chamada de piada. Mas, se deixamos de analisar caso a caso, e queremos encontrar uma chave única e universal para aprovarmos ou não piadas, e se tal chave está vinculada à proteção de minorias, nada faremos senão colocarmos em marcha a sanha inesgotável da censura. O desejo de censura é um vírus perigoso.
Piada de negro não pode! Piada de mulher não pode! Piada de anão não pode! e por aí vai. Ora, vejam só essa piada, que é tida como piada de gaúcho:
O gaucho chega para mulher e diz:
– Bah mulher, hoje eu quero comer seu rabo, e nem precisa dizer que doí, porque eu sei que não doí!
Eu acho engraçada. O gaúcho sempre posa de macho, então, toda piada que resvala para o que ele próprio toma como homossexualidade, é ele o escolhido como protagonista. Dizer “piada de gaúcho não pode” soaria ridículo. Estaríamos falando do gaúcho como minoria discriminada, o que não é o caso. Ora, seria então uma piada homofóbica? Mas, por conta da atividade anal, pode-se falar em homofobia? Desde quando usar o ânus no sexo é prerrogativa exclusiva de gays? Só uma pessoa que já nasceu melindrada ficaria realmente chateada com essa piada de gaucho. Se não é uma excelente piada, ao menos boa é. Eu consigo rir com ela. Não me sinto participando de algum ato coletivo de depreciação de alguém.
Agora vejam algo que Leo Lins conta como piada: “Eu acho muito legal o Teleton, porque eles ajudam crianças com vários tipos de problema. Vi um vídeo de um garoto no interior do Ceará com hidrocefalia. O lado bom é que o único lugar na cidade onde tem água é a cabeça dele. A família nem mandou tirar, instalou um poço. Agora o pai puxa a água do filho e estão todos felizes”. Sinceramente, eu não consigo rir disso. Mesmo alguém que não tem dó de pais com filhos com hidrocefalia, e que não fica constrangido pela fala de Lins, ainda assim não consegue rir disso. Pois não é uma piada. Testemunhas bem isentas já me contaram que também nos shows dele as pessoas não riem disso, que o que ocorre são gargalhadas esparsas, vindas fundão. Gargalhada de escárnio é algo que o filósofo da Escola de Frankfurt, Theodor Adorno, qualificou como típica do nazista.
O que quero dizer com isso é que o “politicamente correto” foi interpretado pelos seus inimigos e pelos seus defensores de maneira a usar de uma chave universal, e isso acabou produzindo o cheiro de censura. Todo o debate sobre esse tema do humor entra por um via pouco inteligente quando queremos uma fórmula que nos tire do trabalho de analisar caso a caso e, de antemão, por rotulagem, resolva a questão. Requisitar palavras que nomeia minorias para servir de rótulo é uma maneira burra de lidar com isso, e em geral apenas satisfaz a sanha de censura que povoa a mentalidade da classe média.
O melhor que temos que fazer é continuar a usar de pedagogia para ensinar crianças a serem menos ofensivas, e usar de juízes para avaliar a mídia quando ela descarrilha. Cria-se daí a jurisprudência necessária. Os americanos fazem bem isso. Nós, diferentemente, temos menos apreço pela formação de jurisprudência.
Paulo Ghiraldelli, filósofo, escritor, professor e jornalista
. As classes médias adotam o identitarismo neoliberal e cultura woke cancelando e lacrando até até piadas de minorias, querem matar até a arte da comédia só por causa de humoristas medíocres, como qualquer profissão, com piadas ruins.
. Esse patrulhamento moral só agravará os problemas sociais, basta ver o vídeo abaixo onde um oriental reclama da perseguição que sofre de minorias negras nas ruas e escolas.
. Minorias atacando minorias mostrando o identitarismo neoliberal atingindo o seu objetivo que é a defesa atomizada de minoria pelos próprios indivíduos abstraindo a sociedade e virando o todos contra todos.
. Igual fizeram com os trabalhadores que foram atomizados com a destruição de sindicatos e associações, perderam direitos trabalhistas e previdenciários e agora são tratados como empreendedores ou empresários de si mesmos para entregar marmitas.
https://youtu.be/j-ctLSAdbqA?t=30m15s
O Jamel é casado com uma filipina e ela testemunha negros ofendendo asiáticos no seu dia a dia.
As piadas em relação a São Paulo nem precisam ser ditas basta assistir ao seriado Mazzaroppi.
As piadas em relação ao paulista nem precisam ser ditas basta assistir ao seriado Mazzaroppi.
Já li em algum lugar, ou alguém já disse que: “se conhece uma pessoa pelo o quê a faz rir.” Eu não sou uma pessoa que ache muita coisa engraçado. Ficava, quando criança, vendo meu pai e irmão rindo das peças de “Os Trapalhões” e me perguntando do quê eles riam tanto, nunca achei muita graça neste quarteto, talvez que meu gosto por humor seja ou muito ruim ou muito apurado. Este indivíduo comediante da vez, nem nunca ouvi dizer dele. É engraçado, e esta palavra cai bem agora, uma pessoa ser conhecida pelas besteira que faz, pensando que esta alegrando alguém.
Esse joão emiliano parece um psicopata com dano mental de tanto ver merda na internet e aparentemente não ter vida fora dela pra escrever esse vômito mal cheiroso em forma de texto
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