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A MORTE DE JAIR BOLSONARO

Pelo Twitter, Carlos Bolsonaro disse que deixará as redes sociais de seu pai. O desligamento já vinha ocorrendo. Agora, ele anunciou isso formalmente: “não acredito mais no que me trouxe até aqui”. Disse que sairá sem avisar, isto é, sem o chamado “adeus”. Ou seja, um dia Jair Bolsonaro terá seu corpo desligado das máquinas, e então perecerá de vez. O Jair zumbi irá embora. Carlos já terá optado por outro caminho.

Sem Carlos, Jair Bolsonaro é um babaca sem identidade. Voltará a ser o adolescente que ainda não enfrentou o pai. Será aquilo que sempre foi, um tosco comandado por suas mulheres. Estará extinta, de vez, a imagem que de fato já havia se apagado desde o último debate com Lula na Rede Globo. Tal imagem foi criada por Carlos: o homem antissistema, de direita, capaz de inflamar de ódio os ressentidos, o povo necessário para levar adiante um projeto de mudança radical da sociedade. Tratava-se da ideia de fazer a sociedade acreditar que ela própria não existia, que só o indivíduo e a família importam. Era o projeto de implantação daquilo que não poderia ser implantado, uma utopia. Ou melhor: uma distopia: o anarcocapitalismo.

Carlos sai na hora certa. Ou melhor: sai na hora que não há mais o que fazer. Jair Bolsonaro se deixou destruir por marqueteiros, pelo PL e, principalmente, por Michelle Bolsonaro, conhecida agora como Piricrente. Mas ele não podia fazer diferente!

Carlos lutou como leão para que o pai continuasse o projeto da campanha que levou Jair a se eleger presidente. Mas, Jair Bolsonaro não podia seguir adiante. Ele jamais foi um homem de rupturas. Carlos confundiu as coisas. Viu no modo às vezes estabanado do pai, um agente de mudanças para a viabilização da selvageria de Steve Bannon. Mas, um tal Jair, nunca foi outra coisa senão o fruto do autoengano de Carlos. Ao perceber agora que não se trata mais disso, Carlos se afasta acusando outros, não propriamente o pai. Ele não tem coragem para tanto.

O projeto de Carlos ruiu porque Bannon é de fato um enganador. E a morte de Olavo de Carvalho desarticulou o mundo de ódio, intrigas e do destrambelho teórico das redes sociais no Brasil. Além do mais, a direita foi levada a uma atitude politicamente suicida durante a Covid. E, de fato, ela administra mal o país. A esquerda tem condições de tocar o neoliberalismo vigente melhor.

Ora, de fato, Carlos queria levar o pai para um aventura de “revolução permanente”. Uma mobilização contra tudo e todos o tempo todo. Carlos fez da loucura da distopia um horizonte, e achou mesmo que o pai iria acompanhar esse script que um dia lhe disseram que caberia a Jair. Mas Jair sempre foi apenas um medíocre. Nunca foi golpista ou capaz de ser de fato terrorista. Carlos está decepcionado. Está perdido. Está sozinho. Muitos estão órfãos como Carlos. Alguns estão na prisão. Outros vagando por aí esperando mais um líder de direita prometer a eles a volta ao mundo sem civilização.

Jair seguirá seu caminho de marido traído, de cabo eleitoral de santa do pau oco. Aos poucos, voltará às pescarias, interrompidas por alguma ida a alguma delegacia ou fórum.

Paulo Ghiraldelli, filósofo, professor, escritor e jornalista

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