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A VIOLÊNCIA EM ESCOLA NÃO É FRUTO DA MÍDIA

NÃO É A MÍDIA QUE PRODUZ VIOLÊNCIA. A MÍDIA PODE PRODUZIR MEDIOCRIDADE.

A VIOLÊNCIA, esta que se manifesta nas escolas, é fruto do império do igual. Mas o igual é distinto do mesmo. O mesmo se constitui diante do outro. Sem o outro, a uma mesmidade capenga. Onde está a mesmidade atual? O que é o mesmo, ora, trata-se do idem! A identidade! Busca-se identidade! Mas o mesmo, o si mesmo, teria que ser formado pelo Outro. E este, foi expulso. Há um mesmo deteriorado, propenso ao igual.

Trata-se das vidas de todos nós, soterradas pelo Igual, pelo que não foi gerado pela presença do Outro. Sem a alteridade, o negativo, o obstáculo negador, o eu não se realiza, apenas se fixa segundo uma identidade, que se exerce por meio do narcisismo sem Narciso.

O regime neoliberal não permite o conflito, pois todos são indivíduos que “empreendem a si mesmo”, todos são capitalistas pois possuem “capital humano”. É ele que não permite o Outro, o confronto, o negativo. Cria a sociedade da igualação.

Mas, sendo uma sociedade midiática, a busca é pelo aparecer. Este, o aparecer, é próprio da mercadoria que, afinal, se faz em vitrines. Essa “sociedade do espetáculo” cobra um novo estatuto ontológico: não é o ser e nem o ter que nos garante, mas o aparecer é que garante a existência. O vício do selfie, o aparecer, ao mesmo tempo sempre igual, é fruto disso. A identidade por meio do físico! O resultado obtido é o igual. Narcisismo sem narciso: olha-se para si mesmo e ao buscar o diferente para proclamar alguma identidade, dá-se de cara com o igual. O show da mercadoria abstrata é o show do selfie. Ao mesmo tempo, é um show que tem que ocorrer, pois a sociedade midiática é aquela não censura, ao contrário, exige a manifestação, a fala, o contar, o exibir-se.

Todos nós, imersos nisso, não suportamos mais nós mesmos. Não suportamos o nosso fracasso diário que diz “apareça ou pereça”. Ora, como vamos aparecer em um mundo em que tudo que se faz é sempre o igual? Um mundo em que o corpo não se opõe mais à mente, que a matéria não se opõe mais ao espírito, que o operário não se opõe mais ao patrão, que o erótico é frustrado pelo pornográfico, que as janelas (Windows) não as da internet e não mais do abrupto? O Outro foi abolido!

Entre nós, há os que se tornam mais frustrados que outros, e cujo si mesmo fere mais que a qualquer um. Essa frustração e mágoa se desdobra em violência, violência contra si mesmo, e violência exatamente contra as instituições que se mostram inadequadas ou inalcançáveis para estes que se consideram mais feridos que outros. Atacar a escola, ou quem está nela, por conta de que se esteve nela para se frustrar, ou nunca se esteve nela por ser excluído e, então, ser ridicularizado – eis a sina.

Se entendermos o que o regime neoliberal e o capitalismo financeirizado nos tirou, como ele aboliu o confronto, o Outro, compreenderemos de onde vem essa violência praticada na escola, uma instituição que é símbolo comunitário, de vida relacional, mas que acaba por ser um espaço no qual a vingança contra a igualação é o palco mais fácil, mais propício. Em nenhum lugar se vai todos os dias, por tanto tempo. Ou então não se vai, e se é ridicularizado por outros. Na escola se vai todos os dias. Ela é um palco natural.

Paulo Ghiraldelli, filósofo, escritor, professor e jornalista

4 comentários em “A VIOLÊNCIA EM ESCOLA NÃO É FRUTO DA MÍDIA”

  1. JOAO LUIZ Garrucino

    Mas claramente das redes sociais e suas plataformas digitais e algoritimos acima das leis ou das democraccias ou Estados nacionais alimentando o anonimato e a impunidade e estimulando o crescimento da violência e extremismo de toda ordem devido a impunidade…É preciso que leis exijam um cadastro com dados pessoais como temos que fazer quando compramos um celular…Nem precisa divulgar documentos e endereços mas se necessário a policia identifica o meliante ou terrorista violando leis e cometendo crimes diversos até atacando instituições da republica, democracia, Estado de Direito e Laico e querendo volta do nazismo ou idade média ou rumo ao oriente médio…Cansei de ver todos estes anos que denuncias geram censura de textos sérios e democráticos enquanto deixam rolar postagens fakenews da extrema direita com negacionismo e teorias da conspioração e contra a democracia e liberdade…As redes sociais não tem qualquer compromisso com a democracia ou com leis nacionais que somos obrigados a respeitar…Mas redes sociais estão acima das leis locais…Vale tudo e ninguém sabe como funcionam estes algoritimos…

    1. .. As redes sociais apenas potencializaram um ambiente social já existente, bem antes dessas tecnologias, como seitas de fanáticos como a do Jim Jones ou de evangélicos que isolam seus membros da sociedade e até familiares proibindo jornais, tv’s, rádios, etc, que não sejam os indicados pelas lideranças desses grupos iguais os pastores evangélicos caça níqueis.
      .. Seus membros se isolam entre iguais e tudo em suas vidas giram em função dessas bolhas sociais, nada de fora é tomado como tendo valor ou credibilidade.
      .. Esse fenômeno fez, em 2016, o dicionário de Oxford incluir o termo PÓS-VERDADE, “relacionado a uma situação em que as pessoas são mais propensas a aceitar um argumento baseado em suas emoções e crenças, em vez de um baseado em fatos”. (http://www.cienciaexplica.com.br/2020/09/23/o-fenomeno-da-pos-verdade-e-suas-implicacoes-na-percepcao-publica-da-ciencia/)
      .. Hoje TODOS NÓS VIVEMOS ISOLADOS EM GRUPOS DE BOLHAS SOCIAIS SÓ DE IGUAIS em zap’s, telegram’s, etc, em que só trocamos mensagens com os iguais em ideias e crenças assim grupos esquerdistas não admitem os de direita/extrema-direita e vice-versa.
      .. Fenômenos psico-sociológicos vindos da ideologia neoliberal não se resolverão impondo mais leis com punições penais ou pecuniárias.

    2. .. As redes sociais apenas potencializaram um ambiente social já existente, bem antes dessas tecnologias, como seitas de fanáticos como a do Jim Jones ou de evangélicos que isolam seus membros da sociedade e até familiares proibindo jornais, tv’s, rádios, etc, que não sejam os indicados pelas lideranças desses grupos iguais os pastores evangélicos caça níqueis.
      .. Seus membros se isolam entre iguais e tudo em suas vidas giram em função dessas bolhas sociais, nada de fora é tomado como tendo valor ou credibilidade.
      .. Esse fenômeno das fake news fez, em 2016, o dicionário Oxford incluir o termo PÓS-VERDADE como aquele “relacionado a uma situação em que as pessoas são mais propensas a aceitar um argumento baseado em suas emoções e crenças, em vez de um baseado em fatos”. (http://www.cienciaexplica.com.br/2020/09/23/o-fenomeno-da-pos-verdade-e-suas-implicacoes-na-percepcao-publica-da-ciencia/)
      .. Hoje TODOS NÓS VIVEMOS ISOLADOS EM GRUPOS DE BOLHAS SOCIAIS SÓ DE IGUAIS em zap’s, telegram’s, etc. Só trocamos mensagens entre os iguais em ideias e crenças assim grupos esquerdistas não admitem os de direita/extrema-direita e vice-versa.
      .. Fenômenos psico-sociológicos como a PÓS-VERDADE que permite a proliferação das fake-news, comuns em regimes nazistas e fascistas, favorecidos pela ideologia neoliberal não se resolverão impondo mais leis com punições penais ou pecuniárias.

  2. Olá, professor! O que o senhor descreve nesse belo texto é mais ou menos o que nos fala Christoph Türcke em seu livro Sociedade Excitada, principalmente no primeiro capítulo. Nele, há uma relação entre o avanço da microeletrônica no capitalismo desregulamentado e a capacidade das pessoas sentirem e perceberem. O capitalismo digitalizado subsume tudo e todos ao imperativo do fazer-se notar, “ser é ser percebido”, e com a digitalização da vida em todos os âmbitos, a presença midiática se sobrepõe à presença física. Ora, para me fazer notar preciso chamar a atenção do outro, e da mesma forma os outros (inclusive instituições, governo, empresas etc) querem ser percebidos, e por isso cada vez mais se esforçam para chamar a atenção das pessoas. Portanto, é como se vivêssemos num regime de “luta pela atenção”, de modo que somente os choques audiovisuais mais violentos têm chances de se destacar frente à enxurrada de estímulos disparados pelo aparato midiático, o qual funciona diuturnamente. Estamos chegando num estágio em que chamar a atenção digitalmente não seria mais suficiente, até porque não há lugar para todos nesse regime. Assim, Türcke chega a sugerir que esses ataques em escolas são uma espécie de fuga desesperada, uma forma de violencia que a pessoa inflinge no afã de ser notada, nem que seja por alguns momentos, existir
    socialmente

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ALUNOS E PROFESSORAS SIMULANDO ATAQUE - VEJA QUE VIROU DIVERSÃO!