OS PALESTRANTES, SEJAM eles de auto-ajuda, ou coaches, ou acadêmicos que palestram para empresas e posam de articulistas de jornais e revistas, quase todos eles, ensinam o lema de nosso época: “seja você mesmo”, “crie-se”, “reinvente-se”, “viva intensamente”, “não se deixe parar”. São todos lemas que transmitem o igual, o que faz sem grandes alterações, exatamente como também esses palestrantes são o repeteco. Eles jamais colocam uma oposição radical ou invocam o Outro.
AS MULHERES BELAS eram as que obedeciam regras, o que se acostumou a chamar de padrões. Mas no mundo do capital, em que o igual impera, as mulheres belas foram se tornando uma forma de escapar dessa tautologia. Daí que as mulheres belas, as atrizes de Holywood, passaram a ter narizes aduncos, cabelos encaracolados, lábios grossos e até disformes. No começo, houve a rejeição ao chamá-las de belas. Elas surgiram como “sexy”. Mas depois, sem qualquer subterfúgio, elas foram chamadas de belas.
O HIPERREAL SE TORNA o único real a que conferimos realidade. Por que trata-se de uma fuga da igualação das proporções, do império do igual, do reino do abstrato imposto pelo dinheiro capitalista.
ORTEGA Y GASSET conta que quando uma mulher diz que acha um homem interessante, ela está predisposta a ir para a cama com ele. Penso que Ortega acerta nisso. As razões é que há aí a fuga da mesmidade. Um homem é interessante não quando ele é diferente, mas quando ele é diferente do diferente. Quando há nele algum indício do Outro. Eros é efetivamente um Outro.
O CONSUMO de nossa época é intimista. A notar isso, podemos acreditar à primeira vista que ele prima pela originalidade. Mas não! Toda sua especial atenção para com o intimidade, para com sua vinculação ao curtir e curtir-se, se deixa diluir na voracidade do igual. A intimidade não traz mais marcas do Outro. O gosto pessoal e íntimo nada revelam que não esteja presente nos outros, igualando-os. É como se o consumo repusesse a época dos produtos em série, no tempo do fordismo, exatamente agora que o consumo promete abolir seu vínculo com o que é seriado.
AUTENTICIDADE. Vivemos de certo modo uma época de cultivo da autenticidade. Mas, o autêntico não é que se distingue pela alteridade. O autêntico é exatamente o oposto. O autêntico é autêntico por ser ele mesmo. Portanto, trata-se de um militante da religião do igual, da completa ausência do Outro.