Não vai ser nada saudável estudar na escola pública paulista de ensino médio. Certamente não, em especial nas aulas de História. Pois colocaram ali um tópico controverso até mesmo para o ensino superior: “racismo estrutural”. É incrível como as pessoas que cuidam do ensino demoram para absorver o que pode ser interessante, mas com uma facilidade incrível são capazes de botar na grade curricular o que é porcaria.
Racismo existe, todos nós sabemos bem. Mas não existe racismo estrutural. A tese de Silvio Almeida é um erro em todos os sentidos. Logicamente e historicamente ela não vale. E vai ser ensinada no ensino médio! Temo que isso só sirva para indispor alunos brancos e alunos negros, criando um péssimo ambiente. Temo que o estrago pode ser até maior que isso, se é que isso já não é o suficiente.
A tese tem um erro lógico, que implica em uma afronta ao Direito: o Brasil é estruturado pelo racismo, mas o racismo no Brasil é crime! Então, como fica? Somos todos criminosos? E se somos todos criminosos, como fica um princípio básico do Direito? A premissa é a seguinte: todos somos inocentes até que exista acusação (dirigida a um indivíduo) seguida de julgamento justo e condenação.
A tese é um erro em história. O Brasil é estruturado pelo racismo? Mas a Constituição diz que não, que quem for racista vai ser interpelado pela lei. Ora, a Constituição é justamente produto histórico, que se fez pelo povo, e este, então, exatamente por não compactuar com nenhuma racismo, a trouxe como guardiã do antirracismo.
Só com isso, já se pode colocar a tese abaixo. Mas há mais ainda. Agora em relação ao ensino. Como o professor poderá defender a tese do racismo estrutural após os alunos descobrirem esses dois furos acima mencionados, sem que o ensino se torne uma peça de animosidade?
Cada aluno que vier a entender o que foi colocado até aqui, irá questionar o professor. E se o professor teimar na tese, o aluno se sentirá enganado, forçado a aceitar algo insustentável, errado. Perderá a confiança no professor, na escola, no ensino. No limite, irá desenvolver uma relação cínica com o aprendizado. Aos poucos, pela exigência de “passar de ano”, de ter “boas notas”, acabará por concordar com o professor de modo formal apenas. Não irá demorar muito para o estudante descobrir que a matéria “racismo estrutural” veio de alguém que está no governo de esquerda, do Lula. Tenderá a crescer com a ideia de que a esquerda enfia goela abaixo dos estudantes aquilo que é o errado. Em um estalar de dedos, o aluno passará a engolir a tese também falsa de que a esquerda quer doutrinar os estudantes.
Ao final, uma vez na escola, a tese causará prejuízos epistemológicos e políticos – como os sumariamente relatados acima. Para que passar por isso? Por moda identitária. Por advogar a acriticidade. Um tiro pela culatra da esquerda. Um tiro na inteligência de todos nós. Por tudo que conheço dos professores que advogam teses loucas, temo que teremos uma reação dos estudantes contra o “racismo estrutural”. Uma vez sendo adolescentes, não será difícil para eles acabarem por defender a ideia errada de que em nossa sociedade nenhum racismo existe.
Paulo Ghiraldelli, filósofo, professor, escritor e jornalista
Cuidado que te chamam de “reaça” professor. Infelizmente, o PT não aprende.
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