As crianças foram levadas para depor. Lá, confirmaram os adultos: sim, há abuso sexual na escola. A partir daí, a escola foi apedrejada e seus professores perseguidos. O diretor morreu – infarto. Mesmo os que trabalharam pouco lá, não conseguiram mais emprego em lugar algum. A desgraça se abateu sobre eles.
As crianças cresceram e, então, conscientes do caso, revelaram que não havia nada na escola, nenhum abuso, que tudo foi imaginação dos adultos, e que elas, então crianças, responderam contentes o que eles queriam ouvir. A ideia de Rousseau, de que criança é inocente, ou seja, o romantismo, fez o que tinha de fazer na época, levando as pessoas a destruírem a escola em nome da ideia de pureza das crianças. A destruição da escola e da vida dos profissionais do local foi o resultado do romantismo acrítico, que às vezes vira ódio puro.
Agora, temos a história da Escola de Base 2.0. As pessoas resolveram apedrejar a juíza Joana Zimmer, que, seguindo a lei e procurando não realizar o infanticídio, tentou o melhor possível (ver meu artigo anterior). Ela queria manter o feto vivo, que seria um bebê para adoção. Assim fazendo, iria cumprir o desejo da menina que estava grávida. A menina queria a interrupção da gravidez. A juíza iria providenciar isso, de que houvesse a interrupção de sua gravidez, e ao mesmo tempo iria garantir que o bebê vivesse e tivesse um lar. A juíza é doutora e mestre nesse assunto, com uma vida dedicada a tais causas de proteção de crianças. Todas suas atitudes se deram nesse sentido. Não havia no comportamento da juíza e no caso todo o que foi anunciado pelos advogados mal intencionados, muito menos o que o The Intercept divulgou. Não havia ocorrido um estupro no sentido da violência, apenas sexo consensual entre uma garota de 11 anos e um menino de 13. Pode-se falar aqui, objetando, que não há sexo consensual nesse caso. Mas isso é uma questão da investigação, de se saber como a coisa andou, e por isso as perguntas da juíza e também o segredo de justiça. Mas a sanha da imprensa estragou tudo. E há jornais que ainda estão tentando justificar o erro que cometeram. São podres!
Tudo isso estava em segredo de justiça. Pessoas inescrupulosas (os advogados?) gravaram a audiência, tiraram do contexto, e divulgaram para a imprensa falas que induziram as pessoas a ver na juíza o oposto do que ela estava fazendo. Ela virou um monstro. O The Intercept soltou a coisa errada, e a imprensa restante copiou tudo, sem investigar a verdade. Afinal, os jornalistas hoje sofrem da tentação Ctrl C + Ctrl V. A reportagem inicial induziu todos a achar que o direito da menina estava sendo negado, e que ela estava com repulsa do “estuprador”, que estava em cativeiro etc. A opinião pública raivosa, cheia de ódio, insuflada pelos ressentidos de sempre, tanto fez que acabou levando o hospital universitário a refazer sua posição. A notícia que nos chega, hoje, noite do dia 24.06.22, é que o hospital acabou levando a termo o aborto. Na verdade, se isso ocorreu mesmo, foi de fato infanticídio. Todos que participaram dessa mobilização virtual e nas ruas, contra a juíza, são os assassinos do bebê, filho de duas crianças. Essas pessoas podem agora ir dormir. A vingança foi executada, como elas queriam. Algumas, mais estúpidas, outras, mais desavergonhadas, irão todas tentar ainda fingir que lutaram pelo direito da menina grávida. A mentira para si mesmo é uma forma de sobrevivência de seres rastejantes.
Vingança contra quem? Vingança contra o mundo. Ressentidos do mundo, uni-vos. Esse foi o lema. Um lema que Marx temia. Ele temia o “comunismo de inveja”. Ele temia o ressentimento contra os que tinham propriedade. Revolução para ele não era movimento de ódio para roubar o outro. Ele antecipou a visão de Nietzsche sobre as possibilidades de ressentimento, ainda que este, por sua vez, tenha trabalhado o temo no âmbito de discussão metafísica. No livro Ira e tempo, Peter Sloterdijk fala novamente desses ressentidos, no campo do que ele chama de psicopolítica. Eles, esses seres rastejantes, estão em toda parte, na direita e na esquerda, principalmente nos movimentos identitários. Eles estão na imprensa. Eles mataram, matam e matarão.
Essa gente, ao produzir a barbárie, colocou a possibilidade da legalização do aborto no Brasil como algo ainda mais distante, depois disso tudo. Talvez o desejo inconsciente deles tenha sido esse mesmo. No fundo, nenhum ideal que seja de esquerda eles querem de fato realizar. Participam da ideia de que se um mundo melhor vier a existir, eles perderão a função, a função de fazer linchamentos.
Algo simples, mas muitos fazem questão de não pensar: se é possível tirar do útero um bebê vivo (probabilidade grande após 22 semanas – daí essa data cabalística), para adoção, por que fazer o aborto e então tira o feto morto? Em todos os países em que o aborto é legal, há a data a partir da qual não se faz mais o aborto, pois não seria aborto, seria o nascimento. Não há aborto legal em “qualquer idade”. Sempre o procedimento, seguindo o critério do saber local, segue uma data, que em geral, pelo laicismo disseminado, é dado pela ciência médica e pela tecnologia.
Paulo Ghiraldelli, 65, filósofo, professor e jornalista – canal youtube.com/tvfilosofia
Veja os vídeo: 1) https://youtu.be/vwkKgVgDvlI 2) https://youtu.be/ufGBSmq7LCw
Lembro desta história. O que lembro eh que a mida fez um estardalhaço, os donos da escola foram torturados, homem e mulher, e no final não era nada daquilo.
Uma nova Bruna de Salem .estive em Salem e aconteceu o mesmo …la fruto interior coletiva do puritanismo e da imaginação maléfica…das autoridades…
Estou tentando bloquear o Intercept na minha internet, não estou conseguindo.
hi nice post thank you so much Sarkari Exam
hi nice post thank yo so much Sarkari Exam
Carlos,uma menina pobre não pode abortar por quê?Por causa de gente como
Zambelli,Bia Kicis e Janaina-pragas nazistóides do iferno.
Corrigindo:pragas nazistóides do inferno-ah,e os filhos machõeszinhos
do Mijair e também os pilantras do MBL,claaaaaaaro.
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