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MUSK dono do Twitter: bolsonaristas comemoram porque são burros!

A direita bolsonarista é abestalhada. Comemorou a compra do Twitter por Elon Musk. Ora, por tudo que Musk é e pelo que ele falou ao comprar a rede social, as práticas da direita só perdem com o novo dono.

A direita bolsonarista é confusa. Não sabe direito o que é o capitalismo. Não entende que o capitalismo, como ele está posto hoje, é uma força aceleradamente globalizadora, que vem produzindo não mais no regime da sociedade de consumo e no âmbito da social-democracia e do Estado de Bem Estar Social. Estamos no regime pós-fordista (just in time e em acordo com a entrada da comunicação na empresa) e caminhando na financeirização necessária ao acúmulo do capital, junto da fábrica que cede à cidade, então tornada como grande empresa digitalizada que abriga o biocapitalismo. Foi por conta disso que a Internet surgiu como nós a conhecemos hoje. Este novo padrão de acumulação é fruto do capitalismo estreado no final dos anos setenta. Todo esse arranjo social, como expus em A República brasileira e em Semiocapitalismo (ambos do CEFA Editorial), cabe no rótulo da capa política chamada neoliberalismo. Elon Musk é um capitalista que apoia todas as transformações que são postas sob a rubrica neoliberalismo. Claro, ou ele faz isso ou deixa de ser capitalista.

Dentro do neoliberalismo, como necessidade, está a Internet. Ela só pode funcionar se o fizer no sentido de sua criação. Ela foi criada para servir ao mercado financeiro e expandir seu modo de operatividade para toda a vida humana. Ele implica na expansão da democracia, como regime de paz social que favorece o mercado financeiro e as mudanças a ele atreladas. Elon Musk sabe disso, e comprou o Twitter, segundo o que ele próprio disse, exatamente para que a liberdade da democracia seja vigente no Twitter.

Segundo o que ele anunciou nos jornais, sua pretensão é tornar os sistemas operacionais do Twitter abertos a todo o mundo. Se assim for, como ele mesmo também afirmou, os robôs e bots desaparecerão. E, como ele também disse, sendo os usuários todos autenticados, eles serão todos identificados. Essa medida deverá fazer com que mais pessoas dominem os algoritmos, ampliando o General Intelect – aquela força de inteligência coletiva a que Marx aludiu, prevendo essa fase do capitalismo a qual chegamos –, e assim fazendo, todos, inclusive os trabalhadores, deverão ganhar saberes que os farão partícipes de uma cidadania mais ampla.

Os códigos operacionais e os sistemas operacionais do Twitter, uma vez públicos, servirão para que todos venham a saber de onde emergiu uma notícia, quem a postou inicialmente, e, assim, que tipo de pessoa ela é. Se a comunidade iluminista souber que se trata de um fazedor de fake news, um criador de bagunça, irá trazê-lo para a barra dos tribunais. A lei comum dará conta dele. Elon Musk não está errado ao acreditar nisso. Ele não é um bobo.

Não será necessário censura exterior ao Twitter. A própria plataforma se regrará com a ajuda da comunidade iluminista que, querendo mais democracia, deverá querer mais verdade. A mentira disseminada na sociedade globalizada, divulgada em tempo real, pode levar todos a não saberem mais o que é verdade. Ora, então os negócios param de acontecer, como ocorre em todas as sociedades não democráticas, não livres, em que a mentira impera e todos deixam de se entender simplesmente por conta do desaparecimento do chão da Terra. O mundo financeiro entra em caos. Depois, é a produção que entra em caos. Finalmente, entramos em uma “guerra de todos contra todos”.

Obama tem visitado o Vale do Silício, agora como cidadão comum e presidente da Fundação Obama, e se reunido com os chefes dos grandes monopólios da comunicação via Internet. Ele está preocupado demais com a corrosão da democracia a partir das fake news. Mas ele próprio não sabe o que sugerir. Uma coisa ele sabe: legislação castradora não dará resultado diante do tipo de maquinaria que são as plataformas virtuais. E em geral, as pessoas comuns não fazem a menor ideia do que são as plataformas. Mesmo usuários ativos da Internet imaginam que o Google, por exemplo, é um “buscador” apenas!

Só a liberdade extrema, ou seja, a libertação dos próprios sistemas operacionais do Twitter de estarem sob segredo, irá trazer a possibilidade dos cidadãos poderem identificar os bots, então haverá como não permitir o caos nos negócios, e, portanto, a continuidade dos padrões de acumulação do capital, ainda que saibamos que o crescimento do mundo está estagnado. Musk está se pondo na onda da “missão civilizadora do capital” (Marx), e, ao mesmo tempo, forçando o liberalismo ao seu máximo. Esse máximo de liberalismo (apesar do individualismo e do crescente gap entre ricos e pobres) será um campo altamente propício para a democracia participativa, e, claro, para as esquerdas inteligentes. É nesse terreno que irá ser travada, como já ocorre, os embates novos e inusitados da luta de classes.

A parte da esquerda que é burra sempre irá acreditar que seus cuidados com “discursos de ódio” devem ser protegidos por semiditaduras estatais, na base de proibições e censura. A direita do tipo bolsonarista, sempre burra em sua totalidade, acreditará que Elon Musk, por dizer que irá permitir o máximo de liberdade, está lhe dando chances de fake news e, com isso, dando vantagem para Bolsonaro. Mas o que Musk diz que vai fazer aponta para o lado oposto.

Paulo Ghiraldelli, 65, filósofo, escritor, professor e jornalista

10 comentários em “MUSK dono do Twitter: bolsonaristas comemoram porque são burros!”

  1. Mariangela Cabelo

    Quem está aqui e já leu O LIVRO SEMIOCAPITALISMO e o final do livro REPÚBLICA BRASILEIRA DE DEODORO A BOLSONARO. Teve condição de entender o que o professor quis dizer no vídeo sobre a compra do Twitter. De qualquer forma, um texto cai bem para os que entenderam e PRINCIPALMENTE PARA OS QUE NÃO ENTENDERAM COMPLETAMENTE O VÍDEO DE ONTEM. Quem é da Esquerda Reflexiva precisa entender o que está em jogo aqui. Como isso nos afeta. Comentar que o Elon Musk comprou uma rede social assim ou assada é realmente não entender qual foi o objetivo dele. CASO SEJAMOS INTELIGENTES iremos tirar proveito surpreende do algoritmo exposto. Esse é o começo do fim do Carluxo et. al. O seu texto explica o motivo, mas o Carluxo et. al está aquém de compreender o porquê sua era acabou.

  2. Os discursos de ódio não são entre aspas-eles existem,mesmo.E cá pra nós,
    quem reclama de “semiditadura estatal” é da mesma raça de um Paulo Guedes
    ou de qualquer outro liberalzinho da “terceira via” da vida.Só faltou um termo
    no texto acima:ANARCO-CAPITALISMO.É disso que se trata.

  3. Osni Winkelmann

    O que Musk declarou, sobre ser contra a censura, já foi explicado pelo professor Ghiraldelli em alguns vídeos quando ele argumentava que não adianta criar leis mais específicas e rígidas para cercear/censurar a ‘internet’, mas que é preciso usar e tornar efetivas as leis que já existem.
    Toda declaração na ‘internet’ pode ser considerado um documento, que uma arquitetura aberta pode tornar disponível para ser usada para responsabilizar judicialmente quem o emitiu.
    Uma ‘internet’ com ‘nome e sobrenome’ de quem está a ela conectado é uma ‘internet’ consequente e responsável em que não há mais ‘anônimos’, dificultando o uso de robôs e tendendo a diminuir bastante as ‘fake news’.
    Os bostanaristas, e uns esquerdistas gados asininos, parece, que não entenderam o texto, se ofenderam por serem chamados ‘burros’.

  4. Pronto, deu de o caduco defender bandido de direita. Musk é um dos maiores bandidos da atualidade. Ghiraldelli gosta de chamar os outros de burro, mas a sua burrice extrapola os limites. Musk não quer liberar código piça nenhuma, só ingênuo acredita nisso.

  5. Por várias razões eu até desgosto bastante do Elon Musk, mas quando eu li a entrevista dele fiquei interessado pela questão de publicar os algoritmos. Me lembrou a ministra espanhola. Não sei o quanto isso vai nos esclarecer na prática sobre o funcionamento das plataformas, pois grande parte desses algoritmos são probabilísticos. Pelo menos poderemos ver se são probabilísticos mesmo, quais os parâmetros usados, e qual a possibilidade de o administrador da plataforma interferir voluntariamente nas escolhas (supostamente) probabilísticas dos algoritmos. Fora isso, acho muito importante a autenticação de usuários. A liberdade de expressão é direito do indivíduo, não de um zilhão de bots que fazem tanto barulho que a gente não consegue mais ouvir o que indivíduos de carne e osso estão dizendo. De resto, a liberdade de expressão “absoluta” que o Elon Musk quer no Twitter me parece ser o equivalente da não censura a priori. Você “pode” ir no jornal e publicar um texto nazista, não há controle estatal do que é ou não publicado, mas isso não significa que depois você não vá sofrer as consequências legais. Se os usuários estão autenticados, acho mesmo que eles devam poder dizer o que quiserem. Os usuários continuarão podendo ser responsabilizados na justiça. Eles terão que prestar contas ao poder legítimo, que é o judiciário, e não a um poder privado, como a gerência das plataformas, que é o que tem acontecido hoje.

  6. O bom do professor é criar proposições inusitadas sobre questões ou opiniões diversas. E quem disse que é preciso concordar com tudo? Bastante ler e tirar proveito daquilo que vc acha verdadeiro. Destarte, tenho certeza que muita gente que o ler tira proveito de muita coisa!!!

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