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O neostalinista da Folha de S. Paulo: o caso patológico Luiz Felipe Pondé

Como evitar guerras ou parar guerras já desencadeadas? Muitos acreditam que junto de mudanças econômico-sociais, como certamente os marxistas, com razão, gostam de mostrar, faz-se necessário também narrativas éticas que apelem para nossa condição humana.

Nesse sentido, as narrativas às vezes preferidas, são as vindas do Iluminismo, que em geral apelam para elementos que deveriam ser comuns entre nós: a razão ou, melhor dizendo, a consciência moral. Por exemplo, a consciência de que não podemos tratar o outro indignamente, pois isso seria abrir portas para que todos pudessem ser tratados indignamente e, desse modo, inviabilizar a própria civilização. Sentimos aí um cheiro de argumentação neokantiana. Uma lógica a serviço da moral.

Richard Rorty foi o filósofo americano que, diferentemente desse neokantismo, preferiu as narrativas neohumeanas. Seria mais interessante, disse ele, vermos de modo empírico o que nos faz ser solidários uns com outros. Ele notou, então, que nosso amor pelo humanidade não é ponto de partida, mas sim ponto de chegada, pois antes temos amor pelos mais próximos: a família, o clã, os que nos são parecidos e assim por diante. Assim, se a filosofia clama pela paz através de Kant, o melhor seria buscar a paz através de Hume, e desse modo, o cinema, o jornalismo e coisas dessa natureza, poderiam ter mais sucesso que a narrativa argumentativa da filosofia. Pois essas narrativas mostram dramas particulares que podem dar início a uma caminhada para vermos dramas que seriam universais. Ou seja, é mais plausível que antes de sermos justos, somos leais, e só podemos ser justos quando ampliamos a lealdade para grupos maiores, até chegarmos no grupo grande chamado humanidade. Richard Rorty deixou isso bem claro no livro que traduzi para a Martins Fontes, com o aval do próprio filósofo americano, o Pragmatismo e política (2005).

Uma foto de um jornalista mostrando o sofrimento humano de pessoas semelhantes a nós, iria nos comover e nos fazer ficar sensibilizados. Uma outra foto poderia mostrar pessoas quase semelhantes, também sofrendo, e o círculo do sentimento iria se ampliando. O cinema, o jornalismo, o romance e, enfim, a literatura poderiam contribuir mais para a solidariedade universal como ponto de chegada do que a lei universal, posta pela filosofia – ou pela filosofia enquanto Filosofia – , que diz que temos que consultar a consciência universal e ver o quanto a nossa consciência tem de seguir essa consciência universal para que a civilização seja preservada.

Na guerra da Ucrânia o invasor militarizado é o soldado russo, e agora o mercenário pago por Putin. O invadido, a vítima, é o civil ucraniano, inclusive velhos, mulheres e crianças. O jornalista que mostra a foto dessas pessoas sofrendo, faz o que Rorty pediu que se fizesse. O jornalista que traz a foto mostrando negros tendo mais dificuldade de fugir do campo de guerra, amplia a amostragem do sofrimento, e pode conquistar mais corações. Nessa ampliação de círculos de sensibilidade e empatia, podemos chegar ao amor à humanidade. Discurso morais neonkantianos ou cristãos, taxativos e argumentativos, não ajudam.

Mas há no Brasil o neostalinismo e o neofascismo que pensam diferente de tudo isso. Para eles, nem Kant ou Hume servem. O que se deve fazer é a defesa da ideia arcaica que envolve ainda o conceito de natureza humana. Nesse caso, a natureza humana é má, e ela deve se realizar na guerra. Segundo essa gente, qualquer jornalista que mostre o sofrimento humano está apenas sendo usado pelos homens de poder para ganhar a guerra das narrativas. Haveria um sentimentalismo de classe média sendo manipulado, e com isso, na atual guerra, a Ucrânia estaria vencendo no Instagram a guerra das narrativas. Para esse tipo de pessoa, com o nome de Luis Felipe Pondé (artigo na Folha de 13/03/2022), o jornalista deveria se calar, não fotografar nada, apenas vir tomar uma cerveja com ele para comemorarem a maldade humana. Pondé quer ser um adorador da insensibilidade com capa de filósofo, mas acaba, ao escrever esse tipo de artigo, sendo apenas uma amostra de algum tipo de patologia que, é provável, exista no DSM da American Psychiatric Assiciation. A máscara de liberal conservador caiu, ele vestiu a máscara do neostalinismo dos adeptos de Putin, que culpam os Estados Unidos e a Otan por uma guerra em que o invasor é só a Rússia.

Paulo Ghiraldelli, 65, filósofo, escritor, professor e jornalista

9 comentários em “O neostalinista da Folha de S. Paulo: o caso patológico Luiz Felipe Pondé”

  1. Seu comentário, aqui e no Youtube, sobre esse tipo de insensibilidade humana, me foi providencial, pois havia publicado no Observatório da Imprensa (Sexo e morte na guerra na Ucrânia), onde o professor também foi colaborador, um texto sobre esse mesmo tipo de falta de reação desumana, mostrada pelo dirigente do Partido da Causa Operária, Rui Costa Pimenta, numa entrevista no 247. E que converti num youtube https://youtu.be/9k6TE4ZHoHs Sigo com frequência seus comentários. Abraço.

  2. Quem quer ser reconhecido como Pondé o Idiota?
    @Marco Antônio Almeida da Silva? Você é tão idiota como Pondé. Deve ter lido o texto e não entendido nada, analfabeto de pai e mãe. Coitado.

  3. .. o cara que enxerga cuca ponde como algo bom… é mais um ” magoadinho ” e negativista tanto quanto a cuca…

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Guerra Ucrânia

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