Djamila Ribeiro continua errando. Acho que não vai parar. A formação em filosofia, que ela possui, deveria ajudá-la, mas não está fazendo efeito. Falta vitamina.
A maior parte do que essa moça diz, que é bobagem, vem de suas amarras ao neoliberalismo. Já denunciei isso várias vezes, e como essa situação lhe é peculiar por causa do seu identitarismo. O identitarismo é contrário ao universalismo. É uma posição que favorece o xenofobismo e outras derivações que, enfim, fazem o neoliberalismo alimentar o neofascismo.
Todavia, o identitarismo também cria prejuízos cognitivos, não só ético-morais e políticos. Ele enrijece. E Djamila é enrijecida mentalmente. (Aliás, o corpo dela também reflete isso). Ela diz que Freud criou a teoria da inveja do pênis e que Simone de Beauvoir “refutou” essa tese, simplesmente. Eis aí o dogmatismo do identitarismo. Simone de Beauvoir não refutou nada. Ela, Simone, disse que Freud não viu que a mulher nota o órgão masculino acima do seu próprio órgão genital não pela natureza deste, mas pela sua posição secundária em uma estrutura social patriarcal. (Folha de S. Paulo, 27/08/2021). Ora, é claro que alguém que vem da filosofia, nos dias de hoje, não pode usar a palavra “refutou” em um caso desse tipo. Estamos diante de narrativas. Confrontos de narrativas não são para serem mensuradas como teses de luta refutatória.
Freud se achava cientista, e isso por ser médico. Mas ele não batia no peito. Ele sabia que estava construindo uma cosmovisão. E duvido muito que Marx, antes dele, também não entendesse seu próprio trabalho dessa maneira. Ambos sabiam muito bem que, se usavam para suas construções teóricas, às vezes, o nome de ciência, assim agiam tendo consciência de que não estavam fazendo algo científico no estilo dos cientistas da natureza, os cientistas experimentais etc.
Freud e Marx concordariam conosco, hoje, no modo como tratamos as teorias. Imitamos Richard Rorty, já herdeiro de Lyotard nesse quesito, e falamos em narrativas. Com isso queremos exatamente evitar a ideia de que temos corpos teóricos distintos em embate de morte, e que a qualquer momento um poderá ser provado contra o outro e, então, criará uma situação de refutação. Ninguém pode erigir hoje uma antropologia que não tenha uma enorme contribuição da ficção. Dizer que há inveja do pênis e dizer que não há, e o que ocorre é o predomínio da sociedade patriarcal, é algo que se torna elegante e inteligente se essas posições não são tomadas como o que está no campo da guerra por refutação. Judith Butler se insurge contra Freud tendo essa precaução. Talvez Beauvoir tenha sido menos cuidadosa, mas isso devido ao seu tempo.
“Marx já foi refutado”. “Freud já foi refutado”. Ou mesmo: “Beauvoir já foi refutada”. Ora, essas frases só aparecem na boca de quem é desescolarizado ou mal escolarizado. A boa prática acadêmica atual tem sido bastante incisiva sobre esse ensinamento. Os autores hoje em dia escrevem muito mais no futuro do pretérito. Há todo um cuidado no sentido de se comportar diante do leitor como alguém que sabe que se afirmar que uma narrativa refutou a outra, então, isso acabará por afastar o leitor inteligente.
Djamila não sabe isso. Por isso, ela só atrai o leitor burro. O leitor dela, ao menos no texto citado, é um tanto parecido com o bolsonarista-olavete, que sai por aí dizendo, “ora, Mises já refutou Marx”. Sinceramente, não precisamos de gente assim.
Paulo Ghiraldelli, 63, filósofo