Pedro Bial é um intelectual, mas só na definição do deputado comunista Antônio Gramsci.
Gramsci escreveu no cárcere de Mussolini. Segundo os escritos desse teórico marxista, que já foi moda aqui nos anos oitenta, todo homem é alguém que “tem gosto” e que expressa uma “visão de mundo”, e por isso todo homem é intelectual e até pode ser visto como filósofo. Fora dessa generosidade da concepção ampla do comunista, Bial não pode acreditar que é intelectual.
Todavia, dentro da Rede Globo, por razões óbvias, Bial é visto como um intelectual por alguns funcionários. Ele não conhece Gramsci, mas como conhece esses funcionários – que ele esnoba -, acredita mesmo que pode até escrever um artigo na Folha de S. Paulo. Acreditando nisso, produziu uma peça vergonhosa de xororô em relação a Lula. Eu li aquilo e senti vergonha alheia.
Bial se acredita intelectual, e talvez até imagine que é um substituto do Jô Soares. Mas, não é assim que seus patrões o viam. Segundo um velho professor e amigo, que chegou a travar contatos interessantes com Roberto Marinho, Bial não era lá a menina dos olhos do proprietário do império Rede Globo. Em geral os capitalistas aturam empregados que se acham bem alfabetizados, mas quando eles são subservientes demais acabam se transformando aos olhos dos patrões no que são mesmo: apenas puxa-sacos. Roberto Marinho disse a esse meu amigo que Bial era um puxa-saco, e por isso mesmo um chato. Roberto Marinho gostava de gente de esquerda, e Bial era visto por ele como um garoto de direita, e que ficava mais à direita ainda ao tentar agradar os chefes.
Bial teve a sorte de, uma vez jovem, estar diante de acontecimentos históricos. Mas só isso. Não mais. Um dia sua incapacidade veio à luz no programa do Jô Soares, quando quis definir o Golpe de 64 como contragolpe. Podemos chamar o Movimento de 64 de Golpe e de Revolução, mas contragolpe é a única versão impossível. Impossível pela lógica formal, mas efetivamente impossível porque historicamente não havia nenhum plano comunista de domínio do governo brasileiro por força das armas. Nunca se encontrou qualquer evidência empírica de organização comunista capaz de resistir ao Golpe de 64. Não havia qualquer coisa preparada no sentido de ataque de comunistas. A luta armada entre esquerda e direita foi de reação ao Golpe, de resistência, e só apareceu após 1964. Qualquer garoto de escola sabe disso. Bial não sabe.
Mas por qual razão Bial não sabe de coisas simples? Bial não fez universidade pública, fez a PUC do Rio de Janeiro. Ora, deve ter sido um menino rico. Foi de colégio particular para uma universidade cara! A PUC do Rio era uma escola fraca, por isso gerou Bial? Não é isso, Bial tem essa dificuldade intelectual por outra razão. Penso que a visão politica não o ajuda, e isso o faz ficar tropeçando.
Bial entrevistou duas vezes Olavo de Carvalho. Ele leva Olavo a sério. Por isso, não pode entender o que lê. Todos que levam Olavo a sério possuem defeito mental visível. É o caso do Pondé, que fez vídeo em homenagem ao maluco. Também é o caso do youtuber Bagulho Bochecha, que fez até curso com o lunático, virou olavete e depois, revoltosinho, tentou ser seu crítico! Piada pronta!
Tudo que eu disse até aqui serve de preâmbulo para a avaliação que faço da investida de Bial contra Lula. Ele disse que só entrevistaria Lula com polígrafo. Falou isso e recebeu bordoadas em redes sociais. Claro! O que ele queria? Ganhou então espaço na Folha para um artigo, no qual deveria se defender. Mas não conseguiu se defender, apenas piorou as coisas, pois não percebeu que a sua provocação nunca foi outra coisa senão uma autodesmoralização.
Bial não foi grosseiro com Lula, como disseram algumas pessoas mais não-me-toques que o próprio Bial. Ele foi simplesmente não profissional em seu trabalho e, de quebra, burraldo. Por duas vezes, na tal provocação que ele disse que fez com Lula e no artigo da Folha, ele agiu contra si mesmo! O editor da Folha que, segundo o próprio Bial, o convidou para escrever e, então, se salvar,, se é um amigo de Bial, já deve ter se arrependido! O artigo virou corda e Bial fez o laço e o colocou no próprio pescoço! Coitado!
No artigo da Folha de S. Paulo (18/04/2021), em que fica chorando aos pés do Lula, Bial não se dá conta de que sua tentativa de provocação contra o ex-presidente é uma confissão de incompetência. Quem é jornalista não precisa nunca de polígrafo, faz entrevista ao vivo e por meio de contraprovas empíricas e/ou lógicas dobra o interlocutor. Desnudar o entrevistado é a arte do bom jornalista. Bial deveria ter tentado outra brincadeira com Lula, outro tipo de provocação. A que usou não lhe deu nenhum lucro. Um jornalista é o próprio polígrafo ou é um nada. E mais, um jornalista mimimi, que fica magoadinho com político, não é um jornalista. Magoar-se com político e gemer é a última coisa que jornalista faz se é de fato jornalista.
Bial escolheu a profissão errada. Bial diz que é magoado com Lula, e que ficou ainda mais magoado por conta de Lula querer entrevista ao vivo, e que tal pedido seria ofensivo. Não confiar na edição de Bial, por parte de Lula, seria ofensivo! Ou seja, Bial não se põe na condição de jornalista, e sim de uma pretendente ao posto de namorada do Lula. Jornalista que realmente trabalha sério não fica discutindo picuinha, simplesmente satisfaz as condições do entrevistado e arranca dele sua melhor e mais reveladora entrevista. Quando o jornalista só quer fazer entrevistas segundo as suas próprias condições, ele já está fora do campo jornalístico faz tempo. Aliás, esse sempre foi o caso do Bial. Ele nunca passou de um recitador de poesia banal para meninas do BBB. E meninos.
Paulo Ghiraldelli, 63, filósofo.