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Chegou a hora de enforcar Bolsonaro

 

Por algumas horas do domingo de Páscoa me tornei bolsonarista. Pela primeira vez em minha vida de 63 anos eu desejei ver a pena de morte em meu país e, pior ainda, imaginei Bolsonaro e sua trupe pendurados na forca em praça pública.

A pena de morte no Brasil significa um duplo crime. Dá o direito do estado tirar a vida de uma pessoa, o que eu considero um crime. Dá o direito do estado, no caso brasileiro, de só tirar a vida do pobre, do pobre preto e dos inocentes. Um crime que torna o primeiro crime ainda mais horroroso. Sendo assim, meu bolsonarismo de algumas horas ficou restrito ao desejo de ver apenas um parêntese na história, uma espécie de licença poética para o mal. Um domingo de manhã, com todos em uma grande praça de uma capital do país, pudéssemos então escutar o som do martelo na madeira, nos últimos preparativos para a forca. Veríamos Bolsonaro com seu histórico de atleta, sua gripinha, sua luta contra o lockdown e a máscara, sua farsa da cloroquina e, enfim, seus mais de trezentos mil assassinatos nas costas, poder andar até o patíbulo. Imaginei a cena e me entusiasmei com ela. Euforia. Peguei-me sorrindo!

Após metade de seu governo, Bolsonaro me transformou em bolsonarista. Quis ver o presidente balançando na ponta da corda. Sinceramente, quis mesmo. Não sei se diante do quadro eu conseguiria me manter no mesmo desejo. Mas, ao menos no domingo do Dia do Chocolate, foi essa imagem singela que o coelhinho da Páscoa me trouxe.

Mas tudo isso que passamos com o presidente capitão não é culpa do Bolsonaro. Como o jargão e o refrão diz: é culpa o PT. No caso, sem brincadeira, é mesmo. E culpa minha.

Entusiasmado com a ideia de Richard Rorty em um artigo sobre os “capacetes azuis”, eu cheguei a ver com bons olhos a integração de nosso Exército nas Forças de Paz da ONU. Acreditei que Lula havia feito um bom negócio com aquilo. Pensei que o episódio traria aos militares brasileiros uma nova consciência de utilidade e uma relação saudável com os outros países. Sonhei errado. Lula estava errado e eu mais ainda. Militar não deve existir. Trata-se de uma raça que não pode ter função alguma. Esqueci-me completamente que, para combater o nazismo, não precisamos deles, fizemos isso melhor com voluntários, os nossos Pracinhas.

O erro de Lula foi tornar os militares de novo acreditando poder falar grosso, após voltarem do Haiti. Haviam finalmente podido atirar realmente. Haviam podido exercer uma missão na vida. Chegaram botando banca, e isso pelas benesses de Lula. Mas o PT fez pior.

É que ao voltar, os militares brasileiros, com o General Heleno à frente, chegaram aqui com uma mancha horrorosa. Heleno havia sido acusado internacionalmente de gastar munição de cima de helicópteros em favelas, matando gente dormindo, num episódio que jornalistas investigativos qualificaram como puro nazismo. O PT não teve a coragem de botar Heleno no banco dos réus. Pior: manteve a missão, ampliou os recursos dos militares e, enfim, nada fez para alterar a consciência e o ensino dos militares. A bosta chamada AMAM continua uma bosta. É a grande bosta da nação.

Deu no que deu. Hoje sabemos que os militares continuam anti-esquerda e que obedecem até mesmo um capitão que lhes cuspiu no rosto. E trataram de trair Lula logo que puderam, mesmo aqueles que o operário sindicalista, na presidência, protegeu. E continuam fazendo o mesmo, sorrateiros e e inúteis. E se manterão assim. Possuem sangue ruim.

O mundo todo reduz suas forças militares. Aqui, amplia-se a picanha, a cerveja boa e os bonequinhos para presentes. Tudo para que os militares possam cultivar o espectro do que fizeram no Haiti. O governo Bolsonaro os empregou como capachos. São 6 mil homens no emprego público em funções que não são deles. E o general Heleno lá está agora, virou homem do próprio governo. Mas a forca eu não desejei para ele, só pensei em Bolsonaro pendurado. Heleno parece um anão de jardim, nem gente é, não ficaria esteticamente bem na forca. Aquela corcunda daria uma silhueta pouco desenhável uma vez pendurada. Os outros militares? Bem, são meio pesados para a forca! Mas injeção letal neles não teria graça.

Todavia, se eu continuar assim, vendo os mortos de Bolsonaro nas ruas e hospitais, acho que até Heleno, daqui a pouco, eu vou achar bonitinho na forca. Vendo Bolsonaro matar brasileiros, creio que amanhã eu posso começar a desejar a pena de morte também para gente na oposição. Mas Lula também é gordo, a corda arrebentaria, e ele sairia impune do patíbulo e mandaria Heleno para mais uma missão. Aposto. Pois Lula é um tipo de Mister Magoo. Ele faz tudo errado, dá certo, depois continua fazendo errado.

Paulo Ghiraldelli, 63, filósofo.